Como implantar um programa de Business Intelligence na sua empresa

Principalmente nos últimos anos a palavra business intelligence (BI) vem ganhando cada vez mais popularidade. Os dados, são reconhecidos como fonte de valor, fazendo que exista cada vez mais sofisticação em termos de armazenamento e manipulação, para que as empresas possam transformá-los em informação e posteriormente conhecimento. Os processos de BI ajudam para que as informações possam ser aproveitadas pelas pessoas certas, nos momentos corretos, nas organizações. Sendo assim, nesse artigo vou mostrar alguns conceitos importantes sobre o BI e como organizar um programa de business intelligence dentro de uma empresa.

Tópicos
1 O que é business intelligence?
2 Quem são os stakeholders?
3 Por que programa e não projeto de Business Intelligence?
4 Como viabilizar o programa de business intelligence?
5 Na prática, como isso funciona?
6 Conhecimento não é poder se não houver ação.
7 Como posso começar a implantar na minha empresa?8 Referências.

O que é business intelligence?

Business Intelligence, ou BI, pode ser traduzido para o português como inteligência de negócios.

Há muitas interpretações e definições sobre a palavra inteligência, mas parece existir um senso comum de que se trata do ato de conhecer, compreender, aprender e memorizar.

No sentido clássico, BI é o ato de coletar, organizar e analisar dados para suportar a gestão de negócios.

Eu gosto da abordagem onde há o conhecimento e compreensão de problemas de negócios, onde serão empregadas análises que resultarão em possíveis soluções através dos números.

“[…] uma solução de business intelligence (BI), ajuda a produzir relatórios precisos por meio de dados extraídos diretamente da fonte. Essas soluções eliminam tarefas demoradas e complexas.”

Schaedler e Mendes (2021, p.18)

Independente das definições, hoje as equipes de BI, fornecem informações com base em números, traduzidos através de relatórios, dashboards, entre outras ferramentas. Possibilitam o entendimento de informações estratégicas, para que executivos possam tomar decisões importantes para a condução do negócio.

Para isso o BI requer a integração de pessoas, processos, softwares e um conjunto de ferramentas que irá suportar toda essa operação.

Quem são os stakeholders?

Em gestão de projetos, os stakeholders podem ser entendidos como os interessados, aqueles que esperam algum resultado prático e financeiro das ações pretendidas.

No caso do BI, os interessados serão todas as áreas que irão usufruir das informações garimpadas. Alguns deles podem ser: os acionistas, departamento financeiro, RH, operações, marketing, dentre outros.

O BI pode ser aplicado em diversos setores da sociedade, como: faculdades, ongs, governos, setores da saúde, etc.

Por que programa e não projeto de Business Intelligence?

Um projeto faz parte de um esforço temporário, ele tem início, meio e fim. Existe uma entrega, que será o marco final desse empreendimento.

É possível termos um projeto de BI para montagem de uma estrutura que irá permitir o programa permanente.

Como comenta Barbieri (2020, p.83) “um programa é algo que se desenvolve ao longo do tempo com certa perenidade”, sendo assim, mais do que um projeto, eu creio que se trata de um esforço que será introduzido da própria cultura da empresa, passando por todas as áreas possíveis. Quando isso acontece, as pessoas passam a divulgar e praticar esse programa, que se torna algo enraizado na cultura da organização.

Para que esse programa possa existir, um passo antes é necessário, a existência de um programa de governança de dados, que permitirá entender as possibilidades de tratamento e uso desses recursos.

Como viabilizar o programa de business intelligence?

Para viabilizar o programa é necessário buscar, antes de tudo, entender quais são as regras de utilização de dados, como comentei anteriormente. Como devem ser tratados, quem são os titulares, qual o ciclo de vida dos dados na organização.

É importante entender, também, quais são os sistemas transacionais (aqueles que permitem o funcionamento da empresa), onde são processados os dados, quais os tipos de informação que eles provêm aos seus operadores. Dessa forma, será possível entender a relação entre os dados.

Como mencionei no artigo sobre Data Warehouse, nem todos os dados possuem a mesma padronização, sendo assim eles precisam passar por uma fase de ETL (Extract Transform Load) para que possam ser utilizados.

Após o ETL, pode ser realizada uma etapa de pós carga, e por fim, armazenados em um data warehouse.

Depois de realizado esse armazenamento podem ser gerados dashboards em programas como Google Data Studio, PowerBI, entre outros.

Na prática, como isso funciona?

Imagine que você queira desenvolver um programa de BI para o marketing digital da sua empresa. Muitas vezes, sistemas de web analytics, CRM, e-mail marketing, de publicidade online, entre outros, não se comunicam da forma como deveriam ou não permitem as análises globais necessárias. Você pode desenvolver um projeto de BI para montagem de uma estrutura (fase de planejamento e construção), como mencionei acima e, posteriormente, um programa de BI que irá promover a análise dos dados já tratados e padronizados.

estrutura datawarehouse
Data Warehouse recebendo informações de diversas origens diferentes.

No BigQuery, por exemplo, é possível você importar seus dados de produtos Google (Ads, Drive, Search Console, Analytics, etc) e preparar todos seus dados para posteriormente se integrarem com um dashboad no Google Data Studio.

Conhecimento não é poder se não houver ação.

A celebre frase “conhecimento é poder” não se aplica caso não exista ação. Eu digo sempre que toda leitura de relatório precisa gerar um checklist de ações.

Como funciona isso? Imagine que o ciclo de vida seja Dado > Informação > Conhecimento.

Dado é o estado bruto da informação, é como uma pedra não lapidada que precisa de tratamento e análise. Depois do devido tratamento, o dado é transformado em uma informação. Essa informação, depois dos devidos comparativos e análises, se transforma em conhecimento.

Um exemplo: imagine um e-commerce de presentes. O número de conversões é um dado, que se colocado em um comparativo, será transformado em informação. Analisado em um contexto anual, podemos ter informações sobre quais são os períodos sazonais da marca, logo temos o conhecimento que ela vende mais em determinados meses do ano.

  • 100 conversões = dado;
  • crescimento de 80% de vendas no site em relação ao último mês = informação;
  • vende-se mais esse mês, pois é uma época festiva, onde as pessoas compram mais presentes = conhecimento; e
  • vamos investir mais em campanhas de marketing nas épocas festivas, pois as pessoas tendem a comprar mais presentes = ação.

Como posso começar a implantar na minha empresa?

Tudo precisa começar em um processo de governança de dados, para entender os limites legais e éticos para tratamento de dados. Como o foco desse artigo é sobre o programa de BI, vamos imaginar que isso já tenha acontecido e iremos partir do princípio onde já existe um data warehouse com os dados disponíveis.

Faça as perguntas corretas.

Procure entender quais as principais dúvidas dos executivos. Isso é importante para que você não faça relatórios inúteis que ninguém irá ler.

Converse com as pessoas, faça entrevistas gravadas, guarde anotações de pontos importantes, as realidades e anseios. Procure saber, através dessas reuniões, o que é importante para a empresa, como mensurar isso através de dados.

Uma análise conjunta dos dados.

Com os dados já dispostos e tratados, entenda a relação deles, para fornecer boas respostas para as perguntas que foram feitas, anteriormente.

Vou usar um exemplo, para explicar melhor: qual o resultado, em vendas, de uma campanha de lançamento de um produto? Para essa resposta, talvez você tenha que combinar resultados de diversas fontes, como: loja online, pontos de venda, campanhas, etc.

Procure desdobrar sua análise para outras perguntas: quanto vendemos no e-commerce? e nos pontos de venda? quais as cidades que mais compraram esses produtos? quais dias da semana? nesses dias tivemos alguma promoção especial? em qual semana vendemos mais? quais foram os produtos comprados junto com o lançamento (venda casada)?

Ao procurar combinar as informações disponíveis no seu dataware house, certamente conseguirá encontrar as respostas para essas perguntas.

Elabore um relatório.

Com as informações obtidas, comece a organizar um relatório respondendo e justificando a pergunta principal. Por exemplo: quantidade de vendas por estado, pontos de venda e e-commerce, entre outros dados, que vão mostrar como se chegou ao total de vendas.

Conhecimento só é poder com ação.

Qual o conhecimento obtido através das informações desse relatório? Pode ser notado, que o produto é mais vendido em um estado ou cidade, em algum ponto de venda específico? Há grande número de visitas em uma loja física e depois compras no e-commerce? Qual o motivo? Foi investido mais no lançamento desse produto para uma cidade?

A partir da informação, podem ser geradas outras perguntas que ao serem respondidas se tornarão conhecimento para a organização, para outras campanhas e vendas de outros produtos.

Independente de quantos relatórios ou análises você tenha na organização, crie um ambiente favorável para que as pessoas absorvam conhecimento e, através deles, promovam ações. Ou seja, crie uma agenda de ações, após cada entrega de relatório ou reunião para análise dos dados.

Tenha relatórios permanentes.

Faça que a análise periódica se torne um hábito. Muitas vezes o tempo de exposição a um dado pode ajudar o seu raciocínio. Eu, por exemplo, tenho um monitor com dados de clientes, organizados em um dashboard. Olho para ele durante algumas vezes ao dia, procuro entender alguns números e tomar algumas decisões.

A imagem a seguir é do Mission Control Center, da Nasa. Perceba que há uma exposição de informações, algumas gerais e do interesse de todos, no painel maior, principal. Ao mesmo tempo, cada operador, em seu computador, possui outras informações e indicadores relacionados com a sua missão nesse centro de controle.

Mission Control Center da nasa
Mission Control Center da Nasa.

Faça algo parecido. Tenha indicadores gerais, do interesse de todos, disponíveis para a empresa ou para uma determinada equipe e para cada multidisciplinaridade tenha relatórios mais específicos.

Algumas organizações, optam por alocar alguns desses indicadores em grandes quadros ou TVs, nos escritórios. Com a popularização do home office, muitas vezes eles chegam para os colaboradores através de emails.

Promova debates, transforme em algo cultural na empresa.

Algumas pessoas podem ter mais dificuldades que outras. Dê atenção para elas, mostre o relatório, as informações, incentive para que elas façam as suas interpretações.

Treinamentos básicos, para os setores e colaboradores envolvidos, pode ser uma boa. Não esqueça que, por mais que tenhamos tecnologias, as empresas são feitas por pessoas. Se você fornecer conhecimento, materiais, e treinamento, elas vão absorver mais rápido essa cultura analítica.

Antes de tomar decisões, incentive para que as pessoas olhem para os dados antes, e por sua vez, contem como chegaram em suas conclusões.

Referências.

Bussiness Intelligence e análise de dados para gestão do negócio. Ramesh Sharda, Dursun Delen, Efraim Turban. Quarta Ed. Porto Alegre: Bookman, 2019.

Business intelligence. Andrew Schaedler, Giselly Santos Mendes. Curitiba: InterSaberes, 2021.

Governança de Dados: Práticas, conceitos e novos caminhos. Barbieri, Carlos. Rio de Janeiro: Alta Books, 2020.

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